Antes, um aviso:
Passou a Bienal e estou disponível para frilas :)
Leitura crítica, acompanhamento de projeto de escrita, revisão, roteiro, preparação, copy.
Vamos conversar? Responda essa newsletter ou escreva para: mateusbaldi@gmail.com
Há uma rocha. E acima desta rocha, o mar. Ele vem de lado e rasga o tecido da carne em raios funiculares que abrandam a textura do som. É como um pedaço de junco partido no nada. Uma rocha. Um mar. Frase. Eco. Um abismo retinindo contra os pelos eriçados do corpo branco, da carne trêmula, trovejando, partida na concavidade máxima que é o topo da cabeça, a escápula, abrir caminho-em-eco na língua para sobrexistir a palavra escápula.
Há uma rocha e dela saltam as cracas. As nódoas. Espáduas. Espaço amplo amplíssimo em que, turvo, o abismo se dilui em disco risco rígido proteuma proteiforme proteoma – quilométricas adestrações. Do fundo da rocha você divisa o limite lá no fundo, lindo. Riso.
Há uma rocha e quando racha a casca a luz sai. Sai. Porque precisa sair e essa é a diferença.
Dar à luz o que é duro e pode ganhar o mundo.
Faz seis meses que não consigo mais pensar. Não são coisas diferentes, mas derivam a. Algo que grita entre seis paredes, a terceira margem dos equívocos do som. Seis paredes muito nítidas. Só não está na terceira margem quem nunca foi. Eu vi ela. E pensei É a terceira margem. Estou vendo. Depois dobrou.
Maria Isabel deita cobrindo os olhos com a patinha. Tudo que é de rosado nela me sobreanima. Porque existe. Há uma carne cor de líquido por fora das patas, o rosa é o azul da realidade. Dizem que na Idade Média os gringos achavam muito único o azul porque era raríssimo. Acredito que seja, mas não sei se é. Conto porque preciso. O rosa é o azul da realidade. Copacabana é o suprassumo da realidade. Por isso me escondo.
Fulana modas.
Ela corre pela sala, a luz azul, e no brilho dos dentes, anti-presas, tem algo de muito puro. A contraluz que revela. Ela corre e mostra os dentes. Algo na presença daquele existir, daquela corporeidade à minha frente, é Deus. Por isso empaco. Finjo que estou ali, mas não estou porque tem a beleza. A luz azul.
É a presença de Deus.
Volto para a rocha, para o mar. Tudo grita. Quero o silêncio. Não todo o silêncio. Ficar em silêncio usando do som. Antirruído branco. A antinomia do instante. O paradoxo milionário de entrelugares. Não há passaporte.
Abrir a picada a ferro. Fórceps.
Os dentes. O copo. Se quebrando tudo para ser recolhido.
Mil bichinhos entre cada um de nós, todos se debatendo.
Há alguns meses existo sendo uma ameba. Eu só entendi ontem. A raiz. Era tão lógica. Tão óbvia.
Recuperar o tempo perdido – não mas também,
Ontem entro no supermercado e vejo, por entre as caixas, artigos mil que meu cérebro não consegue dar conta, um pai que grita. É feliz. Porque grita porque o filho conseguiu pegar o bichinho de pelúcia no brinquedo. Comemora. Já quero/penso em escrever. Como?
O que escrevo aqui não é bem o que aconteceu.
Para além do cachimbo. No quadro. Magritte.
O que escrevo aqui é uma redução. Moldura. Eu queria conseguir transmitir a experiência toda.
Dele. De mim.
As palavras deixam de ser palavras.
Há seis meses não consigo transmitir de mim.
O que vocês vêem não é o que é. E o que vocês acham que é é uma parte. A moldura.
Fica. Mas aí.
Uma moldura.
O impasse?
Uma newsletter é uma newsletter.
Uma carta. Uma carta.
Como um grito de socorro.
Tá tudo bem. Juro. Sinto.
É só que – experimentar novos modos. De existir, de escrever. Não cabe mais. Daquele jeito.
Pode ser que se repita, afinal fica algo. Mas não é aquela. É outra. Forma, pensar.
Um teste.
Fazer das palavras novas palavras.
Há uma rocha. E acima desta rocha, o mar. Ele vem de lado e rasga o tecido da carne em raios funiculares que abrandam a textura da imagem. É como um pedaço de carvalho partido no nada. A textura. O mar. A água vem e bate e sabe o lema de quem resiste, os pezinhos enfiados na areia como fosse pudesse resistir.
Um mar verde. Espuma marmoreada no topo dele, até o meio. E embaixo, na rebarba da espuma que toda vem de volta. O mar é gelado. O céu azul. As Cagarras atrás. Cor de vinho claro/rosa franjeado de branco com restinho de verde claro aqui e ali. Umas gaivotas pretas, pelo contraluz.
O barulho do mar é o barulho da concha. Se o barulho da concha é o barulho do ouvido, o sangue. Escuto o sangue. E o sangue que vermelho diz: não mais homem.
Tiro o pé da areia a areia se refaz. Preenche o buraco. Outros corpos. Vão.
Volto.
Cumprimento a Fátima, pego um coco, sinto a água do gelado no céu da boca.
Maria Isabel é um tigre.
Ela vibra. A luz.
Azul.
Há uma rocha. Que começa a desmoronar e por trás da casca vem o leite dourado creme doce o junco.
Estou há muitos meses me derretendo – tudo.
Estou há duas semanas sem meus aparelhos.
Escutar.
Bilela está esperando frilas.
É isso. Semana que vem talvez tenha mais.
Se você curtiu, me escreve. Basta responder este e-mail.
Se não curtiu, também me diga. É sempre bom saber como melhorar.
Beijos e até a próxima ❤️
Bonito!
Uma newsletter é uma newsletter.
Uma carta. Uma carta.
Como um grito de socorro.
Obrigada por essa mensagem na garrafa. Chegou aqui.❤️